"(...)E no segundo em que você me deixou, doeu. Aquelas palavras, depois de serem ditas, foram inevitalmente repetidas na minha cabeça, agora de uma forma lenta, é-melhor-a-gente-parar-por-aqui, e doeu mais forte, então eu ri, porque rir foi a melhor maneira que encontrei de tentar fugir das consequências que aquelas palavras já estavam me causando. Mas não consegui. E depois do riso veio a cara fechada, a inexpressão, a boca querendo falar um turbilhão de palavras que a mente não conseguiu organizar - caos, coisas como: Não, não é assim, nunca foi esse o melhor, a gente pode se perder, a gente vai se perder, não deixa, não pode, eu não posso, anda, continua seguindo comigo, não me deixa. Entretanto: não vou mais falar nada. E não falei, não porque eu não queria, eu só não consegui. Coração queimando, se transformando em cinzas, e ainda sim, que contraditório, fiquei fria. Parei de acontecer dentro de mim mesma. Não é bom, mas também não é ruim, o problema é que eu sei que depois disso vem a queda. Vou chorar, chamar teu nome, quem sabe até gritar, vou morrer todos os dias nessas madrugadas, me embebedar, fumar, beijar outras bocas e ouvir as músicas mais doloridas, abusar da minha dor, procurar formas ainda mais intensas de sentí-la, porque é assim que eu sou, intensa, é assim que eu gosto, intensidade, e é disso que eu preciso, ultrapassar até onde eu aguento, me arrebentar, e fazer com que o vento leve meus pedaços embora, e outro vento passe me (re)fazendo. Não quero dar passos pra trás, não quero encontrar você, não quero, não quero. Não. Quero. Não estou conformada, mas também não me torturo. É o melhor, não é? Não mudarei você, nem você me mudará. Que triste optar por mudar o nós-dois-juntos. Mas é isso, é, isso. Então você vai viajar, vai ser feliz, e depois vai voltar. Não pra mim. Porque eu não iria querer, e não espero que você volte. Porque se é pra me dilacerar, que seja pela última vez. Não acho justo, não acho certo - já está tudo errado e basta."
[do Caio, com adaptações]
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